sexta-feira, junho 11, 2004

Let freedom ring with a shotgun blast

Voltei. Após uma ausência de 2 meses... voltei. E passo a apresentar a minha justificação para o interessadíssimo e inexistente leitor que neste momento pensa "porque é que o Raw nos dispensou da sua amálgama disconexa de palavras durante tanto tempo?" Eu respondo. Encontrei a minha alma gémea. Passeava eu alegremente na rua, distraído com os pardais e o irritante chilrear dos mesmos quando olho para o lado e oh meu deus! Juro que senti vómitos de alegria. Aqueles olhos, aquela expressão profunda de carinho. A partir de agora, tinha que fazer tudo para sermos um par. Aproximei-me, passei as minhas mãos pelas orelhas e, num ápice, esmurrei a velha, arranquei-lhe a trela da mão e corri com o meu novo parceiro, Timóteo, (como eu mais tarde lhe chamei)pelas ruas da cidade. Foi como desde sempre nos conhecessemos, eu estudante de antropologia, ele um rafeiro castanho de orelhas peludas; tinhamos imenso em comum, desde os gostos musicais até ao incomodativo odor da boca. Recordo com carinho aqueles momentos de amor dentro da banheira, em que ele fingia afogar-se e eu o socorria e fazia respiração boca a boca. Eu e o Timóteo acabávamos a rebolar num sofá ou na cama, onde faziamos o amor doce e carinhoso. Mas um dia chego a casa e santo deus ele jazia na carpete com uma poça de saliva em torno dele. Corri para agarrar o seu corpo peludo mas não senti a sua alma, nem respiração. lancei a sua cabeça contra o televisor na esperança que ele acordasse mas nada. Pendurei-o num castenheiro pela lingua, mas não teve reacção. Então pensei "se os cães estão vivos e, quando são atropelados por carros, morrem, se eu puser o Timóteo morto na estrada ele pode ficar vivo". Alegre com o meu rasgo de genialidade, corri para a Estrada Nacional e coloquei o corpo no asfalto. Deixei-o lá estar durante 2 horas... mas o meu plano tinha falhado. Raspei o Timóteo da estrada e, tal como se deve fazer com os animais, enterrei-o num cemitério para os ditos, com a frase "se fosses um peixe isto não tinha acontecido". Ainda hoje não sei que maldade invadiu aquele corpo rafeiro que tanto adorei,qual a doença maldita que destruiu o meu Timóteo e a mim, que nos enterrou num lodo verde de angústia e saudade daquele hálito próprio de alguém que lambe o seu ânus e genitália.