terça-feira, agosto 08, 2006

A Semelhança entre nós os Dois é que Somos Diferentes

Estava um dia calmo e pacato, as árvores dançavam calmamente ao sabor de um ameno vento de Verão, enquanto ouviam o monótono e belo chilrear dos pássaros e a sua triste cantiga secular, que repetem pela cidade desde a sua criação, como se dissessem "foda-se, a puta da árvore tem farpas para caralho". Os casais passeavam pelo jardim lentamente, num andar vagaroso a celebrar o calor que lhes invadia o corpo, enquanto um cão era violado atrás de um arbusto por um polícia que perdeu uma aposta com os amigos. Os uivos percorriam o parque e espalhavam-se pelo ar, brindando os transeuntes com uma esquisita sensação de "deviamos sair daqui". Do outro lado do parque uns velhotes jogavam dominó, até ao momento da passagem de uma rapariga de mini-saia. A voz do Sr. Américo logo se ergueu e, no altar da sua virilidade, fazendo de conta que pode, de facto, ter uma erecção, exclamou aos sete mares "se fosses um bacalhau, eu... eu... fazia-te! Qualquer coisa... ah, merda do alzheimer...".
As crianças balouçavam no baloiço, enquanto o baloiço balouçava ao balanço do... (desculpem, na minha cabeça isto parecia ter piada, assim visto nem por isso). Ao lado das criancinhas Amílcar retirou a seringa da veia e soltou um suspiro de prazer. As velhotas tricotavam as suas inutilidades que vão oferecer aos seus 132 netos, enquanto discutiam qual delas cheirava mais a naftalina. A Sra. Armário de Roupa ganhou. A menina Violeta passeou-se pelo jardim, à espera que um carro parasse e a abordasse para discutirem preços. Lá ao longe, num quarto escuro, de paredes manchadas pela humidade, chão pegajoso de um muco nojento qualquer, uma figura a um canto, curvada, olhar demoníaco, roupas rasgadas da loucura. um homem planeava 30 maneiras diferentes de ir apanhar nespras com uma palhinha. O cão parou os uivos, acendeu um cigarro e disse "20 euros". O Agente lá lhe pagou e virou as costas. No meio da imensidão de gente, entre este caos estático, num dia calmo e pacato, onde as árvores já não dançavam tanto, mas faziam a coreografia da Macarena, ouviu-se uma voz cansada a gritar. Era o Sr. Américo, feliz da sua descoberta. O grito propagou-se pelo parque, ouvindo-se em todos os cantos e recantos "comia-te o rabo! Lembrei-me!"