quarta-feira, janeiro 28, 2004

There's always free Cheddar in the mouse trap

Devido a uma insatisfação geral por parte dos leitores quanto ao conteúdo cultural e informativo dos meus posts, decidi injectar-vos com um pouco de bom gosto lírico, com uma quadra do semi-nosso, semi-francês Bocage, que nos presenteou com soberbos e sumarentos nacos poéticos, inspirando-se em musas modernas encontradas nas mais diversas esquinas.

Arreitada donzela em fofo leito
Deixando erguer a virginal camisa,
Sobre as roliças coxas se divisa
Entre sombras subtis pachocho estreito.

De louro pêlo um círculo imperfeito
Os papudos beicinhos lhe matiza;
E a branda crica nacarada e lisa,
Em pingos verte alvo licor desfeito.

A voraz porra, as guelras encrespando,
Arruma a focinheira, e entre gemidos
A moça treme, os olhos requebrando.

Como é inda boçal, perder os sentidos;
Porém vai com tal ânsia trabalhando,
Que os homens é que vêm a ser fodidos.

Arreitada donzela em fofo leito - de Manuel Maria Barbosa du Bocage

terça-feira, janeiro 13, 2004

You must have just the right bullets and the first one's always free

Num calmo e solarengo dia, ia eu pacatamente pelas ruas da cidade quando reparo que me tinha esquecido do isqueiro. Para resolver o problema, decidi abordar alguém que me pudesse alugar por alguns segundos o objecto desejado. Escolhi um alvo que estava parado à espera de atravessar a estrada, meia-idade, preto (luso-africano if you wish para não ferir susceptibilidades) e algo de esquisito. Pedi- lhe lume, ao que ele respondeu com um olhar fixante durante uns longos 4 segundos, tal Clint Eastwood. Depois tirou do seu bolso um isqueiro enorme e azul, que eu me aprontei em usar, não fosse ele pensar que eu o queria roubar... acendi uma vez....duas..não deu. Virei as costas, não fosse alguma corrente de ar inexistente estar a prejudicar-me... Rien. Abanei o isqueiro... não deu. Ao ver o meu pranto para acender o cigarro, ele abriu a boca pela primeira vez e, como se fosse possuído por uma força sapiente transcendental ao mero humano, olhou para mim, mísero mortal, com sabedoria a correr-lhe nas veias e disse "tenta ao contrário"...uau. Era como se dois mil anos de evolução fossem arrebatados por esta frase, como se o próprio Ser Humano tivesse sido derrotado em todas as suas batalhas. Controlei o meu desmaio, fixei-me na face confiante e serena do Hércules dos Isqueiros, tentei imaginar como um isqueiro ao contrário poderia auxiliar-me... mas o meu reduzido Q.I. impediu-me. Agradeci e virei as costas ao colosso da massa cinzenta.

segunda-feira, janeiro 05, 2004

Efeito da insónia

Eis que após a tradicional paragem natalícia, este blog regressa em força aos temas que marcam a nossa actualidade.
Uma destas noites em que eu me encontrava com a habitual insónia, fui confrontado com um pensamento deveras inquietante que se relacionava precisamente com o passado, ou seja, fui subitamente assaltado com algumas das mais perturbadoras imagens que o meu registo mental possuí até à data; ressalvando a que mais me desperta inquietação (pelo menos a que me lembro neste momento), recordo a história de um adolescente espanhol que por se identificar com um determinado jogo de vídeo, "decidiu" matar e mutilar a sua própria família, com uma espada de samurai, despejando posteriormente esse mesmo "conteúdo" em contentores do lixo... Sendo este um caso relativamente recente, vejo-me forçado a reflectir no rumo que por vezes a sociedade em que nos inserimos, nos leva a tomar e se, efectivamente, esse mesmo rumo nos será ou não imposto pelas circuntâncias. Será que um dia destes iremos ver o caso de uma velhinha tresloucada, a assassinar toda a sua família com bordoadas da sua botija de oxigénio só pelo facto da sua novela favorita acabar mal? Ou talvez um dia hajam relatos de uma história em que um pai acidentalmente incendeia a sua casa, só por exagerar no consumo de episódios do MacGyver... Meditem sobre isto, fiéis leitores.